Bike Photography: Alemão Silva
Ezequiel Silva, mais conhecido como Alemão Silva, é o fotógrafo que foi indicado pelo nosso último entrevistado, Fabio Piva. Veja aqui a sequência de um bate papo com os caras mais importantes da produção de conteúdo do mundo da bike: os fotógrafos.
Se você encontrar uma figura barbuda escondida atrás de um arbusto e te mirando uma lente nas provas de MTB, é possível que seja o nosso entrevistado de hoje.
O Alemão é um cara que já clicou grandes provas como Warriors of Canastra, CIMTB (ele é natural de Araxá!), Internacional Estrada Real e outras que ele vai compartilhar aqui agora.
RCS: Alemão, você mora bem perto da Serra da Canastra, já andou e fotografou muitos picos e provas por lá. O que esse lugar representa para o MTB na sua opinião? Acredita que ainda pode virar uma potência maior para os ciclistas utilizarem?
AS: Cara, eu já fotografei muito a Canastra, eu moro aqui perto. Ela tem algo muito especial, me trás recordações da minha infância. Eu tenho tios que ainda moram ali, minha bisavó teve muitas terras no parque da Canastra, então eu tenho uma história ali, andando a cavalo. O que esse lugar representa pro MTB, na minha opinião, eu não sei dizer, de verdade. É um lugar muito pouco explorado ainda – no MTB. A galera ainda está descobrindo a Canastra, então esse lugar guarda muita coisa especial para ser mostrada para a galera da bike.
Tem muita coisa para ser explorada por essa galera, pra eles verem o que realmente é a Canastra. Cada vez que eu vou lá, eu descubro algo diferente, então acredito que na bike seja a mesma coisa. Não sei o que representa para o MTB, só sei dizer que é um lugar muito especial, sabe? Acredito que quando a galera vai andar de bike, ali é um lugar que eles vão descansar a cabeça, o lugar transmite muita paz. Quando eu vou para a Canastra é um momento muito único. Eu vou para trabalhar, mas eu descanso muito.
Acredito sim que pode virar uma potencia maior para o MTB, claro. A Canastra tem um terreno para grandes eventos. Ela não se resume só ao parque que vocês andaram ali (no Canastra Warriors). Teve uma vez que um cara desenhou ela em cima de uma bike e ele andou 800 km! É muita coisa, lá é muito grande. Não é só o parque, tem também a Região da Babilônia. Tem altas cachoeiras, que eu sei são mais de 40! É um campo muito grande, a Canastra guarda muita coisa pro MTB!
RCS: Quem te indicou para este quadro foi o Fabio Piva, o fotógrafo mais antigo e mais respeitado no mundo da bike no Brasil. Conta um pouco da sua relação com ele e faz uma análise do trabalho do Piva, o que te inspira, o que você mais gosta, se tem algum ponto fraco etc.
AS: A minha relação com o Piva foi muito repentina. Eu me inspiro nele muito antes de ele me conhecer. Como fotógrafos, nós inspiramos outros fotógrafos, nós temos pontos de referencia. E um cara que eu sempre me inspirei foi o Piva, me inspiro até hoje. Essa questão de fotografar a CIMTB, eu me inspiro nele.
A primeira CIMTB que fizemos juntos foi no ano retrasado, foi quando eu e ele fomos fotografar com o Rogério e a gente sentou na mesma mesa para ver o que a gente ia fazer, e a gente teve uma relação de amizade, ele me deu os passos, me deu muitas dicas. Depois a gente foi para o evento do Avelar, em Mariana, depois para o Campolina. E aí fomos fidelizando a amizade, hoje conversamos muito, o Piva me dá muito conselho, muita opinião.
Essa aproximação nossa é muito bacana, tenho aprendido muito com ele. O que eu mais gosto no Piva é a sinceridade dele. Mesmo que seja dura, ela é pro bem. Quantas vezes ele já olhou a minha foto, e disse com o estilo paulista: “Olha, tá uma bosta”. Ainda mais nessa pandemia, quantas vezes o Piva já reuniu comigo em vídeo para me mostrar o que devo fazer ou não, o que fazer no Photoshop, com uma cor, passar uma foto pra mim. Muita camaradagem. Nessa pandemia ele me fez crescer muito. Então eu admiro muito ele. Se eu vejo algum ponto fraco na foto dele? Bom, acho que não. Acho que não tenho nada a dizer.
RCS: O Piva contou que você penou pra comprar a primeira câmera e que entrou na profissão com muita luta e batalha. Conta aí como foi esse início de carreira e como você se encontra hoje.
AS: Quem tem culpa na minha entrada para a fotografia é a minha noiva. Uma culpa boa. Ela que pediu para eu comprar uma câmera, e aí eu comprei uma das mais simples entre as profissionais. E aí comprei e tive muito interesse, comecei a fotografar, pesquisar, passar para ela o que eu tinha aprendido. Aí eu peguei prática e vi que aquele equipamento não era suficiente. Eu tinha que ir além. Fotografo é assim, quanto mais vai desenvolvendo, mais falta de equipamento vai ter. Para comprar outro equipamento era muito caro, eu não tinha essa opção de comprar uma câmera, eu tinha que trabalhar pra isso.
Sou de uma família muito simples, meu pai não tinha condição de me dar uma câmera. Aí eu entrei em uma pizzaria e trabalhei por 4 meses entregando pizza, para juntar dinheiro e comprar uma câmera usada, mais antiga que a anterior, só que com mais recursos. Aí eu comprei e comecei a fotografar mais, então as coisas começaram a acontecer. Foi aí que as pessoas começaram a me procurar, eu fiz uma página para a gente. Então eu comprei outra câmera, meu pai me emprestou o cartão de crédito. Comprei uma outra e fui arrumando serviço, aí eu saí de dois empregos e não deu certo.
Outro trabalho que eu tive, a uns 7 anos atrás, foi como frentista de posto. Foi meu ultimo emprego, trabalhava dia sim/dia não. Nos dias que eu não trabalhava, era o dia que eu podia investir na fotografia. Foram 9 meses nesse local, no fim eu estava mais pagando pessoas para trabalhar para mim, do que trabalhando de verdade. Então eu recebi uma proposta de um amigo para trabalhar em um estúdio de vídeo, e ele me chamou para a fotografia. Eu entrei e isso dura até hoje, tanto que eu não trabalho somente com esporte, mas também na parte social. É interessante falar de esporte por que a vida inteira eu gostei de esporte. Não de praticar, mas sim de admirar.
Toda a vida eu gostava de ver aquele revistas, rally, motocross, bike, tudo que trás adrenalina eu gostava. Um dia eu resolvi fotografar uma pista de motocross e peguei muito gosto. Dali não parou mais, fotografei skate e logo conheci a bike. Comecei a clicar a CIMTB sem compromisso. Sempre ofereci fotos na imprensa da CIMTB. Acredito que eu amolei eles por uns 4 anos. Foi aí que conheci o Piva, pessoalmente. Conheci o Thiago Lemos e os demais. Nesse curto prazo conheci os demais eventos, o Avelar, o Canastra Warriors, o que tinha na região foi através disso. O trabalho foi melhorando e fomos evoluindo, por conta disso, graças a Deus a gente está onde a gente está.
RCS: Vocês e o Piva estão fazendo uma brincadeira diferente que é fotografar miniaturas com cenários montados. Você já deu uma bina no Piva nessa disputa, concorda comigo? Fala um pouco dessa brincadeira e como ela é vista no mundo da fotografia.
AS: Essas brincadeiras com o piva, de miniatura, foi muito engraçado. Nessa quarentena a gente começou a se reinventar. Eu liguei pro Piva, a gente conversou e no fim a gente teve essa ideia de fazer miniatura.
Ele falou: “Alemão, vamos fazer cara, vai ser legal”, e a gente começou fazendo uma brincadeira. Aí eu falei “Piva, pega os carrinhos aí, pega alguma miniatura pra fotografar”. Eu peguei os carrinhos do meu pai, ele tem coleção. Comecei a fotografar e achei interessante, deu um publico legal, deu uma interação legal. Eu achei bacana por que, enquanto não tem trabalho, vamos divulgar, vamos postar essas miniaturas.
Achei interessante por que, apesar do momento que estamos vivendo seria interessante postar como uma descontração. Acabou que a coisa ficou um pouco séria, grandes nomes e grandes páginas começaram a visualizar e postar nossas fotos, o pessoal curtiu e pedia mais. A gente viu que ficou interessante. A gente não tinha fotos de eventos atuais para postar, então no fim a gente tava fazendo uma foto (de miniatura) já pensando na outra. O Piva me ligava e falava “faz assim, usa tal luz, o que você acha de fazer assim?” “Isso é muito bacana”. O trabalho que o Piva fez pra Caloi foi muito bacana, ele me adiantou em primeira mão. Me contou tudo que ia fazer com a Caloi e Playmobil. A gente teve uma aproximação muito grande nessa pandemia. Muito mesmo, demos muita risada e gargalhada no wpp e vídeo, teve dia que ficamos mais de uma hora trocando ideia sobre fotos, miniaturas. Muito legal.
Então pra mim essa pandemia me deixou um marco muito grande para a fotografia. Se eu já fiz alguma disputa com o Piva, isso nunca existiu. A gente nunca teve esse pensamento de “A minha foto ficou melhor ou pior que a sua”. Hora nenhuma. Cada raiz de cada foto a gente já sabia. Teve fotos que eu fiz, que na verdade era plano do Piva. Ele que tinha me falado “faz assim, faz desse jeito que fica legal”. Cada fotografia de miniatura do Piva tem um pouco de mim, da nossa história de pandemia sobre as miniaturas. Eu já sabia das fotos dele bem antes dele postar, a gente já conversava bem antes. As fotos dele tinham muito plano meu, e as minhas fotos tinham muito plano dele. Muita gente brincou “Alá Piva, o Alemão está te passando”, mas na verdade a gente nunca teve esse pensamento de disputa, mas sim de cooperação.
RCS: Quais eventos de bike você já clicou? Algum evento que você sonha em fotografar um dia?
AS: Eu já cliquei A CIMTB, esse foi o meu segundo ano. Fiz o Avelar, a Canastra Warriors (WOS), a Forrest Run que é aqui da região. Fiz a Bocaina Trail, esses são os meus eventos anuais. Tem vários eventos intercalados e menores, mas estes que falei são os maiores. Alguns que eu falei são trail, que tem modalidade de corrida de montanha e bike também. Os eventos que eu sonho em fotografar… Isso é engraçado, tudo vem acontecendo muito rápido.
Eu nunca imaginava que iria fotografar a CIMTB e os eventos da Avelar. Só sonhava, mas não imaginava que seria tão rápido. Nunca imaginava que eu seria o fotografo principal da WOS, era algo muito longe que eu pensava. E acho que isso é um erro do ser humano, sonhar como algo muito distante. Por isso tudo aconteceu muito rápido, então eu não penso assim mais. Eu já vivo um sonho, não tive esse tempo para pensar.
Eu gostaria de fotografar o Cape Epic, é um evento lindo, internacional. Gostaria de fotografar a Brasil Ride, muito. O meu estilo é aquele que conta a história, que fala sobre o local. Não é somente uma foto bonita, mas algo que fala sobre a dificuldade que o atleta está passando. Acho isso muito bacana, essa mistura de foto jornalística com esporte é algo que eu sempre gostei. Acredito que o BR é algo com um nível de dificuldade enorme, eu gostaria muito de ir lá
Um evento que eu tinha vontade, e agora não vou passar vontade mais, é o Picos Pró Race. É o maior evento de MTB do Piauí e eu vou fotografar a próxima edição lá. Esse evento veio pra mim por uma força que o Piva me deu, então eu agradeço muito a ele por isso. Tem também o mundial de MTB, acho muito bacana e gostaria muito, mas o BR e Cape Epic pra mim são os eventos que tem a minha cara, um nível de dificuldade grande e terrenos que a prova passa.
RCS: Fala quem é o fotógrafo de bike que você gostaria de ver aqui pra gente trocar uma ideia com ele.
AS: O Rodrigo Barreto é um cara que eu conheci a pouco tempo na CIMTB, ele trabalhando pela Fotop. Desde o ano passado a gente foi se encontrando nos eventos, trocando figurinha, eu conheci o trabalho dele pelo instagram e gostei muito. Um cara muito humilde, gente boa pra caramba. Agora que estamos falando mais e trocando figurinha. Eu admirei muito quando ele me contou o tempo que está no esporte, agora já vai pra 5 anos e ele tem um currículo muito grande, então eu admiro muito o trabalho dele. Ele ganhou um prêmio pela Columbia como melhor foto, isso é mérito dele e eu admiro muito. E é muito gente boa. Um abraço!
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