Microbiota intestinal vs. exercício físico
Os micro-organismos que vivem no intestino exercem uma forte influência sobre o metabolismo. Saiba como uma microbiota saudável pode favorecer ou prejudicar praticantes de atividade física.
O intestino humano abriga uma vasta gama de micro-organismos que afetam significativamente o hospedeiro. A microbiota intestinal, como são chamados esses micro-organismos, promove a digestão e absorção de alimentos, em especial de polissacarídeos complexos derivados de plantas (vulgas fibras), que são posteriormente fermentados em ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs). Esses SCFAs têm efeitos diretos no metabolismo humano e também são usados como fontes de energia por outras bactérias presentes no intestino. Os tipos e a quantidade de SCFAs produzidos são determinados pela composição da microbiota já existente, pela dieta e, como alguns estudos tem mostrado, por atividade física.
Dentre seus efeitos, os SCFAs influenciam mecanismos de sinalização do corpo e, consequentemente, o sistema imunológico, a utilização de energia, a atividade antioxidante, a síntese de hormônios, a integridade de tecidos e é claro, o desempenho esportivo.
Sistema imunológico
Durante exercícios de resistência, é observada uma supressão transitória do sistema imunológico. No estado de fadiga crônica, acontece uma diminuição das proteínas sinalizadoras do sistema imunológico, o que reduz o recrutamento de células de defesa e, portanto, favorece a replicação de vírus, bactérias e fungos.
Estresse oxidativo
Uma das principais adaptações fisiológicas ao exercício é a modulação do estresse oxidativo como forma de evitar danos aos tecidos e permeabilidade intestinal aumentada. Em outras palavras, o próprio corpo se encarrega de aumentar a produção de enzimas antioxidantes para que as espécies reativas de oxigênio (ou “radicais livres”) não causem danos às células. Esses radicais livres são produtos do próprio metabolismo, o que inclui desde o processo de digestão até a resposta à atividades físicas e estão intimamente ligados à recuperação dos treinos. Estudos mostram também que existe uma relação entre estresse oxidativo e fadiga crônica. Assim, quando a qualidade da microbiota está comprometida, a atividade das enzimas antioxidantes diminui, e, portanto, o atleta pode perder em desempenho de forma geral devido à recuperação mais lenta e fadiga acumulada.
Desidratação
Atletas de resistência estão sob um risco maior de sofrerem desidratação em função das perdas de fluidos resultantes da transpiração por períodos prolongados. O desempenho é prejudicado em cerca de 30% quando um indivíduo está desidratado. Portanto, hidratação adequada é essencial para o desempenho no esporte. Uma função fisiológica primária das células epiteliais da mucosa do intestino é o transporte de eletrólitos, portanto, o transporte celular de solutos é imensamente influenciado pela microbiota intestinal. Dessa forma, uma microbiota intestinal desequilibrada afeta o estado de hidratação do atleta independentemente da quantidade de água ingerida, pois influencia no transporte de sais nos tecidos.
Ok. Mas o que eu faço para melhorar minha microbiota intestinal?
O primeiro passo é melhorar a dieta. Como citado anteriormente, os micro-organismos da microbiota fermentam principalmente polissacarídeos completos derivados de plantas. Sendo assim: coma vegetais. Além disso, a suplementação com probióticos também é uma maneira de modular o perfil da microbiota intestinal que pode ser considerada.
Probióticos são suplementos alimentares que contêm microrganismos vivos, especialmente bactérias ácido-lácticas. Eles estão disponíveis comercialmente em comprimidos, em forma de cápsula, em pó (adicionado a bebidas) ou em produtos lácteos como leite fermentado ou iogurte. Já os prebióticos são um tipo de fibra alimentar que quando fermentados pela microbiota já existente no intestino mediam mudanças mensuráveis na composição dessa população de micro-organismos, aumentando e diminuindo populações de diferentes espécies. Em suma: probióticos são os micro-organismos vivos, prebióticos são os alimentos para os micro-organismos.
Como o consumo de probióticos e prebióticos pode alterar processos metabólicos: aumento de Fiaf (relacionado à menor acúmulo de gordura corporal), de PYY e GLP-1 (relacionados à saciedade) e menor infiltração de LPS (uma endotoxina que ativa células do sistema imunológico, causando inflamação e processos associados) através do epitélio do intestino.
Dessa forma, a ingestão de probióticos e prebióticos modifica a microbiota intestinal – e a saúde de forma geral – para melhor. Melhorando a composição da microbiota, é possível melhorar o status inflamatório do corpo, e com isso, melhorar diversos outros processos, como perda de peso, recuperação muscular, melhorar o sistema imunológico e a sensibilidade à insulina. Além disso, o consumo de prebióticos (ou simplesmente salada) não apenas atua melhorando a microbiota, mas também exerce um papel na motilidade intestinal e saciedade. Assim, vale reforçar: não há nada melhor do que uma dieta rica em vegetais e com o mínimo possível de alimentos processados.
Texto : Anaísa Marques
Anaísa é veterinária, mestre em biologia animal, triatleta amadora e tem diabetes tipo 1. Ao longo de muitos anos, aprendeu como fazer para o esporte deixar a diabetes mais fácil.
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