Conheça os prós: o australiano Chris Williams fala sobre como é ser um ciclista profissinal com Diabetes

O Conheça os Prós de hoje é muito especial. Nosso entrevistado é o australiano Chris Williams, atleta recém aposentado do Team Novo Nordisk. Além de carismático, o cara conta com um currículo nada modesto, com provas como Milan-San Remo, Strade Bianche e vários top 10 em corridas pelo mundo.

RCS: Quando você começou no ciclismo? Você já era diabético na época?

CW: Eu cresci em uma cidade no interior da Austrália e não tinha muitos hábitos saudáveis. Na verdade, eu estava acima do peso e fumava antes de começar a pedalar! Me mudei para outra cidade por causa da faculdade e morei em uma república com um grupo de pessoas diverso. Acontece que uma das pessoas que morava comigo era um triatleta. Naquela época, eu nem sabia o que era triathlon, e eu só via meu colega de casa quando ele estava saindo para o treino de manhã e eu chegando das festas a noite. Um sábado de manhã, nós estávamos no sofá assistindo um triathlon na televisão quando um triatleta australiano saiu correndo da água nas suas roupas de banho e minha namorada comentou sobre a forma física dele. Eu tossi e disse que poderia fazer aquilo se eu quisesse e eles riram de mim. Então, três semanas depois eu parei de fumar, vendi meu carro, comprei uma bike e comecei a pedalar.

Uns 8 anos depois eu estava me preparando para uma prova da National Road Series. Com a prova se aproximando, eu estava em ótima forma. Estava com a performance boa e tinha esperanças de continuar assim. Tinha perdido muito peso, o que é sempre bem-vindo para um ciclista, mas logo descobri que era um dos sintomas de diabetes tipo 1. A prova começou com um criterium de manhã, uma modalidade que estou muito acostumado. Entretanto, logo nas primeiras 5 voltas, eu estava sofrendo lá no final do grupo. No final da prova, eu tinha levado uma volta do grupo e por isso fui desclassificado da corrida. Foi extremamente frustrante e meus teammates ficaram surpresos com a situação. Eu achei que era por causa da desidratação e viagens e fui saciar minha sede infinita (outro sintoma de diabetes tipo 1) na esperança de melhorar minha performance para a prova de estrada que aconteceria naquela tarde. Entretanto, na metade da prova, eu sobrei. Cruzei a linha de chegada muito atrás dos vencedores e caí no chão em colapso, com câimbras em todos os músculos possíveis. Eu assumi que era desidratação e pedi ao meu gerente para me levar ao hospital.

Quando cheguei, relatei meus sintomas, os médicos fizeram alguns exames e eu fui imediatamente internado. Me disseram que eu tinha diabetes tipo 1, mas eu achei que eles estavam errados. Estava preocupado em sair do hospital logo porque tinha uma prova para correr na manhã seguinte.

Quando contei isso para o médico, ele riu de mim. Disse que a prova estava fora de questão e que esportes de endurance e diabetes era uma combinação difícil. Foi nesse momento que ele me pegou. Eu pensei que seria isso mesmo e que eu não pedalaria minha bicicleta de novo.

RCS: Quantos anos você tinha quando foi diagnosticado?

CW: Fui diagnosticado relativamente tarde, aos 28. A maioria das pessoas pensam que diabetes tipo 1 é uma condição que se desenvolve somente na infância, mas não é incomum que aconteça em adultos.

RCS: Como você acha que ter diabetes te influenciou como atleta?

CW: Diabetes tipo 1 é uma daquelas condições nas quais todo mundo é diferente. As pessoas reagem de forma diferente a uma mesma situação, então não existem orientações gerais a serem seguidas. Como resultado, eu acho que eu tenho um entendimento muito maior do meu corpo e de como ele funciona. Eu tenho um foco maior em dieta e nutrição, mas não é muito diferente de outros atletas. Eu não apenas tenho que controlar minha alimentação e como ela me afeta, mas também coisas como o tipo de exercício, a quantidade de exercício, doenças, hora do dia, altitude e várias outras coisas que podem afetar a minha glicemia.

RCS: Como é o seu tratamento atualmente? Você usa bomba de insulina ou monitor de glicose continuo (CGM)?

CW: Todo piloto da Team Novo Nordisk usa um CGM. Essa tecnologia foi nova para mim quando eu me juntei a equipe e foi um ENORME benefício. Ser capaz de ver como esta minha glicemia em tempo real me permite adotar medidas preventivas e manter um controle muito melhor. Eu ainda uso CGM hoje e não consigo me imaginar sem ele.

Quanto a insulina, não uso e nunca usei a bomba. Tomo várias injeções de insulina por dia e o CGM me ajuda a saber a hora que preciso injetar.

RCS: Você segue alguma dieta específica?

CW: Desde que me aposentei no ciclismo, não tenho sido tão cuidadoso com a minha dieta. Tenho menos tempo entre trabalho e estudo e por isso estou frequentemente comendo on the run. Ainda tento comer a maior parte dos meus carboidratos pela manhã e ter um jantar com poucos carboidratos, o que ajuda a manter minha glicemia estável durante a noite.

Atualmente, eu pedalo para comer, não o contrário!

RCS: Como o Team Novo Nordisk te ajudou como um ciclista vivendo com diabetes? Como a equipe te ajudou de forma pessoal?

CW: Aprendi muito com o Team Novo Nordisk. Não apenas sobre novas tecnologias e tratamento, mas também através dos meus colegas e através dos tratamentos deles. Nós todos temos experiências e formas diferentes de fazer as coisas, então compartilhávamos dicas e ideias uns com os outros. Isso realmente abriu meus olhos para ver que não existe apenas uma maneira de fazer as coisas e que eu poderia mesmo ter o controle do meu diabetes e encontrar o que funciona para mim.

RCS: Como sua demanda por insulina mudou após a aposentadoria no ciclismo?

CW: Eu ganhei um pouco de peso desde que me aposentei, então minha demanda aumentou um pouco. Novamente, tenho comido menos saudável, então isso também contribui! Pedalar minha bicicleta ajuda muito a manter a glicemia sob controle e também mantém a sensibilidade à insulina.

RCS: Para outros ciclistas vivendo com diabetes que sonham em ser bem-sucedidos no esporte: qual conselho você daria?

CW: Não foque em pessoas que dizem o que você não pode fazer. Eles estão errados. Diabetes não tem que te impedir de alcançar seus objetivos e sonhos. Existe toda uma equipe de pilotos provando que é possível!

Nome: Chris Williams

Idade: 38

Mora em: Brisbane, Austrália

Nascido em: Toowoomba, Austrália

Altura: 181cm

Peso: 77kg

Especialidade: Domestique/Rolleur. Sempre gostei de atacar cedo em breakaways também.

Corrida favorita: Eu amei correr a Japan Cup no final da temporada. Os fãs lá são absolutamente maravilhosos. A atmosfera da corrida é ótima e por isso é uma boa forma de concluir a temporada.

Comida favorita: Gosto mesmo de doces e não sei dizer não para um belo pedaço de bolo.

Objetivos atuais: Atualmente estou estudando enfermagem na universidade para me tornar um educador em diabetes e continuar trabalhando na comunidade do diabetes.

Hobbies (sem ser ciclismo): Eu sei que isso ainda é ciclismo, mas eu tenho realmente gostado de gravel e passeios de aventura ultimamente. São uma forma incrível de explorar e aproveitar estradas menos movimentadas. Seja pedalando, caminhando, acampando ou apenas indo à praia, eu amo estar em contato com a natureza.

Momento embaraçoso: Uma vez encontrei os pais de um jovem diabético na Itália. Fui beijar a mãe na bochecha para cumprimenta-la (o que não é algo comum na Austrália), mas fui para o lado errado e acabei dando um beijo na boca dela!

O que você faria da vida se não fosse atleta? Eu fui professor de ciências de ensino médio antes de me tornar ciclista profissional, então imagino que se eu não começasse a competir, eu ainda estaria fazendo isso.

Melhores resultados em provas: Conquistei vários campeonatos estaduais na Austrália e diversos top 10 em corridas pelo mundo, mas acho que o resultado que tenho mais orgulho é ter terminado a Milan-San Remo. Foi uma prova que eu costumava ficar assistindo na TV até tarde e nunca tinha nem sonhado que participaria. Foi um sentimento maravilhoso cruzar a linha de chegada e mostra que pessoas com diabetes tipo 1 são capazes competir na corrida de um dia mais longa do mundo.

Corrida mais importante que participou: Milan San Remo, Tour da California, Tour de Dubai, Tour de Pologne, Strade Bianchi, Tour de San Luis…

Bike: Eu tenho uma coleção de 24 bikes mas essa é minha favorita…

1. Quadro: Colnago C60

2. Pneus: Vittoria Corsa

3. Rodas: Fulcrum Racing Zero

4. Freios: Shimano Dura ace 9100

5. Pedivela/cassete: Shimano Dura ace 9100

6. Ciclocomputador: Garmin Edge 820.

7. Medidor de potência: Quarq D-Four91

 

Entrevista: Anaísa Marques

Anaísa é veterinária, mestre em biologia animal, triatleta amadora e tem diabetes tipo 1. Ao longo de muitos anos, aprendeu como fazer para o esporte deixar a diabetes mais fácil.

Siga: @everydayimpedalling

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