Bike Photography: vida e obra do jornalista, editor da Bike Action e fotógrafo Fabio Piva
No último Bike Photography falamos com Cesar Delong e depois de mostrar toda a sua galeria, ele indicou o grande Fabio Piva para falar sobre bikes e cliques na edição de hoje. Para quem não sabe, o Piva é editor da Bike Action, fotógrafo oficial da Red Bull Brasil, é o fotógrafo principal das provas da Brasil Ride e tem os maiores eventos de bike clicados em seu currículo.
Além da sua intimidade com os maiores atletas e organizadores de prova de MTB, ele tem também um histórico com caras do skate e outras modalidades que vamos tentar explorar por aqui.
Fabio, sua especialidade é bike, mas tem histórico em esportes como skate e outros que fez pela Red Bull, até oficina de dança e campeonato de embaixadinha. O que você acha que é único em uma competição de bike, que não existe em outro esporte?
FP: É muito difícil afirmar algo que é exclusivo num esporte, pelo meu lado é claro o que é muito único é minha experiência, vivencia e proximidade com o esporte. O ciclismo em sí pode ser um bicho papão para quem não é especializado ou mesmo que não pesquisou e estudou sobre. Imagina o que não é difícil para uma pessoa que não acompanha o esporte saber a diferença das inúmeras modalidades dentro do mountain bike. Mesmo nos que estamos próximo ao esporte e não acompanhamos tanto como o ciclismo de pista ficamos um pouco confusos na hora de acompanhar uma competição dessas.
E o que tem de legal em outros esportes que você já clicou?
FP: Cada esporte tem a sua peculiaridade, seu encanto e magia. Fica bem difícil de destacar algo muito especifico. Com a experiência de outros esportes comecei a acompanhar muitos outros e, é claro, estudar e pesquisar mais a fundo, não para ser um especialista, mas sim para saber o que eu estava fazendo. Uma coisa simples que talvez ninguém nunca tenha prestado atenção é um esporte pouquíssimo visto por aqui. Já ouviu falar em Cliff Diving? Nada mais é que um salto de um lugar alto (28 metros) com manobras e um mergulho na água. O detalhe que aprendi fotografando isso é que existe uma maneira ideal para o impacto/ entrada na água. As mãos e punhos precisam estar cerrados para não quebrar os dedos e pulso com impacto do corpo na água e ainda “abrir” caminho para o rosto. Dá para entender? Louco né?
Você vem de uma escola da fotografia mais antiga, onde existia a necessidade de fotografar na vertical para as capas de revista. Essa técnica está voltando nos dias de hoje com as fotos quase todas consumidas nos smartphones? O que muda na sua técnica de enquadramento e nível de detalhamento?
FP: Bem lembrado esse detalhe. Antes precisávamos fazer fotos verticais e horizontais pensando em como ela seria usada, mas isso era mais devido ao tamanho e qualidade de scanner, para que não precisássemos ampliar demais a imagem e perder qualidade. Hoje é imaginável pensar que chegamos a fazer capas de revista com arquivos de 5 mb. Nos dias atuais a qualidade já infinitamente maior. Sobre usar essa “técnica” eu pessoalmente gosto de saber de qual maneira ou ideia que ela vai ser usada, assim posso pensar no enquadramento correto da imagem. Deixar espaço, respiro… desde que comecei a fotografar tive que pensar em todos esse cuidados e hoje não é diferente. O que as vezes torna-se decepcionante é ”achar” uma foto sua cortada de uma maneira que acaba perdendo tudo que você tinha pensado pra ela, é como se alguém tivesse refotografando.
O mercado de fotos esportivas é pior que do que outros mercados? Como está a cultura da bike (marcas, atletas e organizadores eventos) para valorizar o trabalho dos fotógrafos? Muita coisa mudou nos últimos 20 anos?
FP: O mercado mudou muito com a chegada do digital, depois disso os celulares ganharam câmeras e tudo isso foi evoluindo. Hoje temos câmeras muito mais acessíveis e celulares poderosos com um boa qualidade de foto. O mercado de fotos esportivas ou mesmo da bicicleta nao é diferente de outros. É aquele velho ditado: bom, bonito e barato, não existe no profissional. Algo sempre vai faltar nessa “formula mágica”. Se desse dava para falar só disso durante horas e horas, mas deixo isso para lá.
Quais provas internacionais já fez? Deu sorte para clicar atletas que sempre teve vontade?
FP: Sou muito satisfeito com meu currículo e experiência que consegui durante todos os eventos. Tenho alguns mundiais e Copas do Mundo no currículo. Alem disso Pan-americanos e Sul-americanos. Talvez meu único vacilo durante todo esse tempo foi de não dado um passo se quer para o Jogos Olimpicos no Rio. Hoje eu me arrependo, mas na época eu estava mais indignado com a politica que envolveu os Jogos do que qualquer outra coisa. Deixei de lado e me arrependo. Quero ainda ter essa experiência e tava na mira ir para Tokyo, agora que o evento passou para 2021 a chance passou a aumentar novamente.
Sorte as vezes faz parte sim, mas as oportunidades eu não desperdiço. Já fotografei muitos atletas, dentro e fora do esporte, mas acho que o mais importante de tudo isso é quando você encontra um campeão mundial ou olímpico e ele te reconhece pelo seu trabalho, isso quer dizer alguma coisa.
Fabio, você é um dos caras mais antigos nas pistas de MTB. Vários atletas se aposentaram e saíram das pistas e você continua lá dentro se sujando de barro e clicando as novas gerações. O que você imagina para o futuro do MTB brasileiro?
FP: Hoje (e a época) talvez não seja a mais certa para eu responder isso. Estamos vivendo tempos estranhos e uma pandemia nunca antes vista. Eu fui 200% impactado com esses problemas e meu trabalho e clientes dependem do fim disso tudo. Temos ondas de gerações, que chegam e outras que saem. Eu acredito no mesmo legado que o Avancini tanto cita. Ele foi um cara que tive privilegio de acompanhar desde uma criança até o auge que foi conquistar a camisa com o arco-iris. O Henrique plantou uma semente muito importante no nosso esporte e espero que elas vinguem. A mesma coisa aconteceu uns anos atrás quando a Jaqueline Mourão investiu duas vezes numa espécie de programa para achar novos talentos para o esporte. Deu certo mas precisamos de mais e mais. Nosso esporte é pequeno e depende 99 % dos pais para o jovem praticar e competir. O modo de vida de muitas pessoas mudaram, mas espero que agora nos também possamos valorizar mais o ambiente externo, o esporte, liberdade e saúde.
O falecimento do Cadu ainda é muito recente e a gente sabe que vocês eram mais que amigos, mais que irmãos, desde o período da faculdade. Fala pra gente um pouco dos trabalhos que vocês fizeram juntos, como foi a entrada de vocês dois no mundo da bike, ou deixa qualquer memória que achar interessante sobre ele.
FP: O Cadu Cortez sempre pingou em alguns eventos de bike influenciado por mim. Algumas vezes ele ia para escrever uma matéria e outras para fazer a narração. Nos conhecemos ainda na faculdade, ele foi meu calouro e desde então ficamos muito amigos. Moramos juntos nos Estados Unidos e desde então nossos trabalhos sempre se cruzaram ou fazíamos cruzar. Somos jornalistas, ele trabalhou em rádio onde tinha paixão e depois na TV. Eu sempre mais nos textos e fotos. A primeira experiência dele foi na Copa Ametur (hoje CIMTB) em Carandaí, na Fazenda Pedra do Sino, fazendo a locução super animada de um lake jump. Todo mundo pirou e todas as vezes que conseguia ele ia ao eventos. Recentemente ele foi o ancora e apresentador da transmissão do Campeonato Brasileiro de MTB e também, mestre de cerimonia do Brasil Ride, tudo isso no ano passado. Tenhos excelentes memorias dele, mas é um cara que amava o que fazia e faz uma falta absurda.
Por fim, fale sobre o trabalho de um fotógrafo do mundo da bike que você admira e pode ser o protagonista do próximo Bike Photography.
FP: Tem alguns na lista, mas tem um amigo que quero destacar pela historia dele e acho que deveria ser a primeira pergunta que tem que ser feita. De como esse cara lutou e batalhou para comprar suas primeiras câmeras e de como se aproximamos durante a quarentena. Essa segunda historia é um pouco escancarada e as pessoas sabem, o que muita gente não sabe é essa primeira que não quero dar spoiler por aqui. O Ezequiel Silva, mais conhecido de Alemão, (que de alemão não tem nada) é um personagem impar no nosso cenário e merece muito estar nessa lista. Lembrando que é um cara que tem foco mais no social mas não deve nada no mountain bike.
Clique de Fabio Piva na Áustria, em uma sequência de Gee Aterton Fabio Piva em ação
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