Como treinar para ser um ciclista de sucesso com diabetes

É possível um diabético ter desempenho no esporte?

Quando se tem diabetes, a vida diária – incluindo andar de bicicleta – pode ser um desafio. Mas é um desafio enfrentável. Treinar para performance requer glicemias dentro de um intervalo-alvo. E para isso, é preciso estudar o próprio corpo, ser consistente e acima de tudo, se planejar.

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Pâncreas 101

Diabetes engloba um conjunto de condições que culminam em glicemia aumentada, como o diabetes tipo 1 e tipo 2, o gestacional, LADA e MODY. Nesse artigo falaremos sobre o tipo 1, condição autoimune na qual o pâncreas para de produzir insulina. Ao contrário do diabetes tipo 2, não tem relação com alto consumo de açúcar ou obesidade e geralmente surge na infância ou adolescência.

A insulina é o hormônio que facilita a entrada da glicose para as células. Sem ela, a glicose permanece na corrente sanguínea, onde danifica órgãos e tecidos. Níveis elevados ao longo de vários anos podem levar a complicações graves. Por outro lado, um excesso relativo de insulina pode deixar o nível de glicose no sangue muito baixo, levando a sinais que são rapidamente percebidos: fraqueza, tremores, e nos casos mais graves, inconsciência e coma.

Além disso, a insulina é um hormônio solitário. Qualquer outro hormônio em nosso corpo que não seja a insulina aumenta a glicemia. Assim, a ação da insulina vai depender dos mais variados fatores, dentre eles: idade, ciclo menstrual, peso, horas de sono, atividade física, interações medicamentosas, fase da lua (brincadeira) … Não existe uma quantidade certa de insulina que se aplique para todas as pessoas e a quantidade de insulina também varia para uma mesma pessoa ao longo da vida.

Não existe cura conhecida. Felizmente, diabéticos podem usar insulina sintética para imitar o processo natural do corpo. É fazer o papel do próprio pâncreas. Sincronizar minuciosamente as injeções de insulina com os níveis de açúcar no sangue.

Um endocrinologista pode ajudar a estabelecer um plano, incluindo os melhores horários do dia para treinar e como monitorar, ajustar e gerenciar a glicemia. Para quem já é atleta, o ideal é procurar um médico que entenda de esporte. Pode demorar algumas tentativas e erros para descobrir como o seu corpo responde melhor.

O treino

Uma das maneiras de manter a glicemia o maior tempo possível dentro do intervalo desejado é sendo consistente. Ter uma rotina com horários e tipos de treino, as refeições e as doses de insulina necessárias para cada uma dessas atividades torna a glicemia um pouco mais previsível e facilita muito o dia-a-dia.

Também é importante testar a glicemia antes de ir pedalar.

Inferior a 100 mg/dL (5,6 mmol/L): pode ser uma glicemia muito baixa para treinar com segurança. É preferível fazer um pequeno lanche com carboidratos antes de começar.

100 a 250 mg/dL (5,6 a 13,9 mmol/L): intervalo ideal para a maioria dos atletas saírem para treinar.

250 mg/dL (13,9 mmol /L) ou superior: É preferível tomar insulina e adiar um pouco o treino até que a glicemia volte para o intervalo desejado.

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Mas exercício físico não abaixa a glicemia? Por que não posso treinar com a glicose alta demais?

Primeiramente, a glicemia nunca deve estar alta demais. Mas atividade física com a glicemia muito alta tem 2 principais implicações:

Pode aumentar a glicemia ainda mais. Durante o jejum, o fígado produz glicose a partir de outras substâncias para evitar hipoglicemias, num processo que é inibido pela insulina. Portanto, um dos riscos de se exercitar com a glicose alta (onde há falta de insulina) é aumenta-la ainda mais, por promover produção de glicose no fígado.

Pode levar a cetoacidose diabética. Na hiperglicemia, o corpo recorre a gordura como fonte de energia – uma vez que a glicose está no sangue ao invés de dentro das células – liberando cetonas como produto dessa reação. Da mesma maneira, cetonas são liberadas na corrente sanguínea durante o exercício físico pelo mesmo motivo – mobilização dos estoques de gordura. No exercício em hiperglicemia, o corpo lança mais cetonas na corrente sanguínea. Em excesso, elas deixam o sangue ácido demais e podem levar a um quadro de cetoacidose, que requer tratamento hospitalar.

Para o atleta diabético treinado, exercícios não necessariamente irão provocar grandes alterações na glicemia. Atletas iniciantes ou retomando os treinos após um período off devem prestar mais atenção, porque terão um risco maior de hipoglicemias durante o treino

Conclusão

Mesmo com todos os monitores e leituras, é importante lembrar que gerenciar o diabetes não é uma ciência exata. Portanto, o ciclista responsável com diabetes, levará com ele o medidor de glicose e comida para evitar (ou remediar) hipoglicemias. Um diabético tem tanto potencial quanto uma pessoa sem diabetes; e, tomando os cuidados necessários, é ainda mais saudável que a maior parte da população. Até a próxima!

Texto : Anaísa Marques

Anaísa é veterinária, mestre em biologia animal, triatleta amadora e tem diabetes tipo 1. Ao longo de muitos anos, aprendeu como fazer para o esporte deixar a diabetes mais fácil.

Siga: @everydayimpedalling

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4 Comments

  1. Johannes Milchert

    Gostaria de ter tido acesso a um artigo igual quando descobri a diabetes e voltei a pedalar. Parabéns Anaísa!

  2. Elizabeth Guatiello

    Parabéns Anaísa pela reportagem séria e esclarecedora!

  3. LUISA PEREIRA SIMOES

    Parabéns Anaisa, excelente texto
    gratidão

  4. Hugo Abreu

    Muito interessante e bem explicado!! Parabéns pela disciplina Anaísa!!✌????

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