Mongolia Bike Challenge 2014 – Like no other on earth

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Este é o relato que escrevi em 2014, quando decidi competir na isolada Mongolia

A idéia de competir 900 km com os melhores atletas de mountain bike do mundo durante sete dias parece elevar o esporte ao extremo, mas quando se conhece a fundo o que você pode encontrar na gigante Mongólia, fica notória que a combinação de exageros está completa, unindo o máximo do esporte com a maior grandiosidade natural da terra. O país que é uma verdadeira viagem ao tempo, recebeu pela quinta vez o Mongolia Bike Challenge, e os desafios e novidades encontradas pelos atletas de 23 países beiram ao infinito, e se consagram como extremos em se falando de distâncias, temperatura, superação de limites, riquezas naturais, cultura e história.

A apresentação da corrida iniciou com uma cerimônia aonde todos os atletas e organizadores se apresentaram e resumiram brevemente o que estava por vir. Haviam 79 atletas representando 23 países, com histórias completamente diferentes, e algumas paixões em comum.

A organização falou muito sobre o evento, mas falou pouco sobre os 900 km que iríamos enfrentar. Ressaltaram apenas os importantes dizeres: “Não criem nenhuma esperança para esta corrida. Tudo pode acontecer, portanto estejam preparados”. O silêncio reinou naquele momento. Eu levei aquilo muito a sério, e no fundo eu já sabia que tudo pode acontecer em uma ultramaratona. Mas ao longo dos sete dias, eu vi que deveria ter levado ainda mais a sério, e vocês vão ver por que.

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A HISTÓRIA DO ITALIANO MALUCO

Um dia antes da primeira etapa, todos os atletas e bikes foram levados ao Complexo da Estátua de Chingiss Khan, que foi o maior imperador da Mongólia, e é homenageado em todo o país. A sua história é repleta de curiosidades, e começou a lutar em cima do cavalo ainda criança. O lugar é um dos mais bonitos que eu já vi, o monumento é magnífico e o horizonte é repleto de montanhas que vão ao infinito. A largada seria no dia seguinte, no mesmo local. Eu, não tinha idéia se conseguiria um pódio ou não. Sim, tudo pode acontecer, eu estava aberto até sobre a idéia de não conseguir completar a corrida, mesmo com experiência em maratonas, ultramaratonas e provas de endurance. Mas como único representante do Brasil, eu queria muito mostrar ao mundo como anda o nível do MTB por aqui.

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A estátua de Chingiss Khan foi construída aonde ele nasceu, mas posteriormente descobriram que aquele não era o verdadeiro local de origem do imperador.

Procurei mapear meus adversários logo ali. Vi diversos atletas que aparentavam ser da minha categoria, 18 a 32 anos. Tinha um inglês que era forte, braços definidos e postura impecável. Logo vi que eu seria aniquilado. Tinha um trio de chineses que não entendiam uma palavra do que a gente falava. Tinha um espanhol que também aparentou ser muito experiente, e assim fui medindo as minhas possibilidades de me destacar ou afundar na categoria.

No jantar estava rolando um boato que um certo italiano, novo, que usa barba, saiu para treinar no dia anterior e ficou perdido nas montanhas, e passou a noite por lá. Todo mundo estava fazendo muita piada com o caso, teve gente que até perguntou se era eu. Fui procurar este cara. Assim que me apresentei, vi que ele estava muito desconsolado e cansado, e ele logo veio me contar a história. Ele disse que foi treinar nas montanhas, andou 20 km para fora da cidade, e quando retornou os 20 km ele ainda estava na área rural, e viu que estava perdido. O sol se pôs, e ele foi o primeiro a experimentar o frio que faz lá em cima. Ele ficou sem nenhuma fonte de iluminação e disse que era impossível observar os caminhos. Assim que a noite caiu por completo, ele viu uma fogueira, e com muita dificuldade chegou até lá. Ele foi recebido por três mongóis, que tinham muita dificuldade em entender o que ele falava. A única coisa que os caras tinham para ajudar era água e amendoins. Eles não deixaram o italiano tentar voltar para a cidade, pois era muito perigoso ele caminhar pela montanha sem luz, podendo encontrar buracos ou animais selvagens como lobos, podendo passar ainda mais frio em temperaturas que chegam a -10°C nesta época do ano, ou -60°C no inverno. Ali, ele pôde dormir na grama, ao lado da fogueira. Nesta hora eu parei de rir da história. Vi o tanto que era sério aquele boato que todos estavam contando. Ele poderia ter morrido! E aí, o Italiano Maluco termina de contar a história. Disse que na verdade passou a noite sem dormir, por que mesmo com a fogueira e os amendoins, ele foi dominado pelo frio, fome e medo. Quando o sol nasceu, ele aprendeu o caminho de volta com os mongóis, totalizando a sua longa pedalada em mais de 100 km para chegar à cidade. Como se não bastasse tudo isto, assim que ele entra no perímetro urbano, foi recebido pelo exército da cidade, com uma arma em sua cabeça. Que mistura em? O cara estava com fome, frio, sono, medo, e um militar apontando uma arma em sua cabeça falando uma língua impossível de entender, as 6:00 da manha. Ele me disse que a única coisa que fez foi chorar. Muito. Os militares sabiam que ele não era um cidadão local, e suspeitaram que estivesse entrando ilegalmente no país, de bicicleta mesmo. E isso custou a ele mais três horas de frio, fome, sono e medo. Quem já competiu uma ultramaratona sabe o tanto que é importante você se resguardar e descansar antes da prova, comer e dormir bem e ficar longe de qualquer estresse. Tive muita pena de ver que ele já ia começar a corrida assim, com uma chance imensa de se dar mal e abandonar. E ainda por cima ele me contou que é competidor de Cross Country, e não tem experiência com maratonas e ultramaratonas. Fiquei triste por ele, e vi que ali realmente não era o seu lugar.

1ª Etapa – 120km

A Mongólia é conhecida como The land of Blue Sky, ou a terra do céu azul, pois a baixa umidade do ar proporciona uma paisagem quase sempre sem nuvens, as vezes nem os aviões deixam o rastro no céu. O dia amanheceu muito bonito, mas muito frio. Uma fina camada de gelo em cima das bicicletas me assustou. Acho que por ser brasileiro me senti muito mais amedrontado do que os diversos europeus que estavam ali. Mas estávamos em ótimas acomodações, e eu aqueci minhas mãos com água quente do banheiro e fiquei com roupas de frio até uns 30 minutos antes da largada. Decidi usar somente luvas e meias de frio, pois sabia que mais tarde haveria calor.

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As gotículas de água eram na verdade uma camada de gelo sob o quadro

Foi dada a largada. Não gostei do que eu vi. O ritmo foi muito forte para uma prova de sete dias que estava somente começando. Os primeiros 10 km foram tão fortes que eu precisei até vomitar. Nesta hora, me desfiz de todas as expectativas de pódio, e liguei o meu instinto de sobrevivência para completar os 120 km de hoje sem gastar a energia dos próximos dias. Passou por mim um espanhol que carregava uma mochila imensa, conversamos um pouco e ele disse que também não estava se sentindo bem devido ao forte ritmo da largada. Disse também que na mochila ele carregava toda a sua água, pois não gostava de parar nos pontos de apoio da organização. Achei diferente, e não tive o mínimo interesse de acompanha-lo, e mantive o meu instinto de sobrevivência e economia de energia.

Quando consegui chegar, logo reencontrei o italiano que ficou perdido. Ele nem estava vestido com roupas de bike. Tentei ser amigável ao perguntar se ele não chegou a largar hoje, ou se abandonou no meio da etapa. Ele respondeu que largou sim, e que completou. Não entendi. Perguntei de novo. Acho que nenhum de nós dois sabíamos falar inglês direito. Ele respondeu, de novo, que concluiu a etapa de hoje. Perguntei como foi o tempo dele, e ele me disse que ganhou. Não entendi de novo. Precisei de mais alguns minutos de conversa para entender que ele foi o campeão geral da etapa. O Italiano Maluco chegou na frente do atual campeão da prova! E eu tinha certeza que ele não daria conta nem de completar!

Quando o organizador da prova disse que tudo poderia acontecer, eu não tinha levado tão a sério. Vi que toda aquela leitura que fiz dos meus adversários não valeu nada. Aquele inglês forte com postura impecável não chegou nem entre os 20. O espanhol da mochila imensa chegou muito bem. Os chineses que não manifestaram nem uma palavra, colocaram pressão o tempo inteiro e roubaram meu pódio. Os mongóis que pareciam minoria na prova, dominaram os lugares altos da tabela. E eu, tinha que ir tomar banho, lavar minha bicicleta, e parar de preocupar com o tempo dos outros. E o Italiano Maluco, já tinha feito tudo isso.

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Nicholas Petina, o famoso italiano maluco.

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2ª Etapa – 126km

O ritmo da largada de hoje foi um pouco melhor. Mas ainda me deu canseira. Encaixei em um pelotão com vários atletas da Mongólia. Vi que eram os mesmos que subiram no pódio na minha categoria ontem. Vi também que eles eram muito fortes, mas dentro do pelotão, percebi que faltavam-lhe habilidades. As descidas aqui não são muito técnicas, mas exigem velocidades de até 70 km/h, com muitas curvas, o que transforma qualquer pequena irregularidade do terreno em um ponto de extremo cuidado. Nos planos, precisávamos nos agrupar a um pelotão, e pude ver que os atletas locais tinham dificuldade de se organizar e manter a otimização de energia neste momento que é crítico. Com exceção de um único atleta. Era o nativo Batmunkh Mijid, de 55 anos. Ele parecia um monge, e sempre tomava frente para liderar e organizar o pelotão. Criei uma consideração muito grande pela forma que este atleta trabalhava, e pela força que ele mostrou ter, mesmo com o dobro da minha idade.

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Um furo de pneu me obrigou a sair do pelotão deste grande atleta, mas me permitiu vivenciar uma das experiências mais emocionantes da minha vida. Encontrei o português José Teixeira, que coleciona ultramaratonas pelo mundo, e já competiu o Brasil Ride no mesmo ano que eu em 2012. Ele parou para me ajudar arrumar o meu pneu, e claro, eu fiquei sem palavras com a consideração que ele teve comigo. Ele continuou a sua prova um pouco a minha frente, mas alguns minutos depois eu acabei alcançando ele de novo, e então tive a oportunidade de poder ajuda-lo com a mesma dedicação que ele teve com o meu problema.

O que aconteceu com o português foi que ele começou a ter uma cegueira temporária. Ele estava pedalando muito devagar, e dizia que sua vista ficou toda embaçada, e não conseguia ver o caminho. Parece que isto pode ser um estresse gerado a partir de um posicionamento incorreto do ciclista, que coloca uma compressão indevida na coluna. E ele começou a tentar andar atrás de mim, não para aproveitar o meu vácuo, mas para copiar o meu caminho, pois não enxergava mais o lugar correto para passar, nem a sinalização da prova. Ele disse que me observava só como uma mancha, não conseguia ler o meu número dorsal, e que as vacas ao nosso lado pareciam pedras gigantes. E aos poucos, o problema foi só piorando, e logo ele já estava me pedindo para andarmos mais devagar, e eu tinha que avisar quando iríamos passar por um buraco, rio, ou qualquer irregularidade. Andamos por uns 30 ou 40 km assim, até a corrida acabar, e quando passamos na linha de chegada parecia que o José tinha acordado de um pesadelo. Ele me abraçou e chorou muito, sem falar nada por alguns minutos. E eu também. Aquilo tudo me custou minutos preciosos para o meu sonhado pódio na Mongólia, mas a sensação de gratidão que tive foi uma experiência de vida para mim. Se ajudar um cego atravessar a rua parece ser algo gratificante, imagine ajuda-lo a ser finisher de uma prova de 900 km! Naquela etapa, eu ganhei muito mais que um pódio.

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3ª Etapa – 135 km

Esta noite nós não dormimos mais nas mesmas acomodações de antes. Ficamos no acampamento, e tudo aqui é diferente. Cada um tem que ter sua lanterna para andar pela noite. Precisamos cuidar dos nossos sacos de dormir, e organizar nossa bagagem em um espaço pequeno, de forma que no outro dia a bagagem esteja pronta para ser entregue a organização para partirmos novamente para o próximo acampamento.

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No acampamento, cada um cuida de sua bagagem e espaço, que é dividido entre oito atletas para cada tenda.

Quando acordamos, foi talvez o dia mais frio de todos. Marcava -6°C às 6 horas da manha. Tinha gotas de água congelada por toda a minha bike, e a minha garrafa de água estava parcialmente congelada. Atravessamos vários rios e poças de água nos primeiros quilômetros, e os primeiros atletas do grupo quebraram a fina camada de gelo que tinha se formado nas poças. Os que vinham atrás observavam as placas de gelo. E eu, continuava pedalando sem sentir o meu pé.

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Molhar os pés nunca foi um problema tão grande em uma prova de mountain bike..

Mais a frente, estava novamente no pelotão do mongol Batmunkh Mijid, de 55 anos. Incrível como ele tinha acompanhado aquele ritmo da largada, e ainda mostrava energia de sobra. Mais uma vez, fiz de tudo para acompanha-lo e aproveitar o vácuo e companhia dele. Vi que ele perdeu a sua única garrafa de água logo na largada, então dei uma das minhas para ele. Quando chegamos no primeiro ponto de apoio ele precisou parar para reabastecer, e eu pude seguir sozinho. Neste tempo sem pelotão, acabei errando o caminho, e perdi quase 10 minutos com isto. Não consegui mais alcançar-lo, e precisei me encaixar em outros pelotões mais para trás.

A chegada hoje foi em uma subida. Encontrei um cara da minha categoria neste finalzinho, e sprintei na esperança de espremer um pódio na etapa de hoje. Eu consegui chegar na frente dele, e pude perceber que eu estava melhor que os demais atletas ao final da etapa, e principalmente em condições de subida, como foi o caso de hoje. Mas ainda não foi suficiente para o pódio.

Chegamos ao segundo acampamento, e eu comecei a sentir falta das acomodações comuns. A chegada foi em uma subida e não tinha lugar para fazer um desaquecimento, ou “cool down”, o que é extremamente importante ao final de cada etapa. Cheguei tão cansado, que fui almoçar antes mesmo de trocar de roupa. Depois, fui para a barraca dormir, na grama mesmo. Ou seja, quebrei vários protocolos essenciais para a corrida do dia seguinte. Quando percebi, o sol já estava descendo, e eu ia ter que tomar banho na hora mais fria do dia, e precisaria lavar e arrumar minha bicicleta a noite, o que é quase impossível, além de muito mais cansativo. Eu estava tão cansado que decidi deixar tudo isto para o dia seguinte, antes da largada. Iria dormir sem tomar banho mesmo. Quando percebi, todos os atletas estavam separando suas roupas para amanha, comidas e ferramentas. Seus sacos de dormir já estavam desdobrados e posicionados para a noite. Olhei para fora da barraca e vi o Italiano Maluco lavando suas roupas. E eu era o único que ainda estava inerte.

Nesta hora, lembrei de como meu pai me fala: “Não desanime, Breno.” No esporte nós falamos muito sobre a importância de não desistir, mas falamos pouco sobre a importância de não desanimar. Hora nenhuma eu tinha desistido da corrida, mas apercebi que eu tinha desanimado. Eu continuava na disputa, mas como um competidor sem ânimo, que se encontrava sem reação, apenas observando os demais atletas que estavam se dedicando à prova do dia seguinte.

Tive a sensação de que o meu pódio tinha se tornado um sonho ainda mais distante naquela hora. Tive que tomar a decisão de ir atrás do que eu queria, ou de simplesmente permanecer na minha zona de conforto. Levantei da barraca e revirei toda a minha mala para pegar o que ia precisar. Tomei banho, cuidei da roupa suja, lavei a bicicleta, lubrifiquei, calibrei pneus, reafixei a câmara de ar na bike, separei a roupa de amanha, pus o numero dorsal, embalei as comidas, géis, preparei as garrafinhas, organizei o meu espaço para dormir e recoloquei tudo na mala. Pode até parecer que não é tanta coisa, mas eu só terminei de fazer isto tudo a noite, com o auxílio de lanterna, que torna tudo mais difícil. Sem falar no frio que congelava os meus dedos durante estas atividades manuais.

Isto são atividades que não estão em nenhuma planilha de treino, mas são essenciais para o sucesso em uma ultramaratona. Isto diferencia este esporte de outros que ficam restritos somente ao que acontece dentro da pista. Pra mim, aquele Italiano Maluco lavando as suas roupas e preparando sua bike é um atleta muito mais preparado do que aqueles dos grandes times de ciclismo, que possuem um assistente para cada problema que possa vir a acontecer.

Mais uma vez eu fiquei de fora do pódio, mas com a sensação de ter evoluído e aprendido muito na etapa que passou.

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Os atletas italianos não conseguiram deixar de ensinar seus dotes culinários aos cozinheiros do acampamento.

4ª Etapa – 170 km

A distância que iríamos percorrer hoje já estava assustando todos os atletas a algum tempo. Não que isto não me atingisse, mas eu estava acreditando que era uma boa oportunidade para o pelotão da frente pegar mais leve na largada, o que seria ótimo para eu ficar mais tempo no vácuo deles , e economizar mais energia. Doce ilusão.

Na verdade a largada de hoje foi em um downhill, o que bagunçou tudo. Tive a infelicidade de ver aquele atleta da Mongólia de 55 anos se acidentar logo neste início da etapa, e precisar abandonar a prova. O tombo foi muito feio, e eu passei os 170 km de hoje imaginando o tanto que ele poderia ter se machucado. Fiquei muito triste de ver este atleta tão diferenciado sair da disputa, sem saber o que poderia ter acontecido de grave com ele. Mas eu ainda precisava focar em encontrar o pelotão ideal para eu fazer a minha prova. Mais uma vez, acho que alguns atletas inexperientes estavam naquele primeiro grupo, inflacionando a velocidade de forma inviável para os 170 km que estavam por vir. Me senti muito experiente por perceber isto, e usei como fator decisivo para me desligar do primeiro pelotão e entrar no anterior. A confirmação de que esta foi a decisão certa, foi justamente ver que lá pelo km 110 o nosso “pelotão B” começou a alcançar vários atletas que não conseguiram segurar a onda no “pelotão A”, e ficaram tão desgastados que não conseguiram nem nos acompanhar depois.

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O nosso grupo tinha seis atletas, com um austríaco da minha categoria, e um belga muito inteligente que mantinha a ordem e ditava os revezamentos o tempo inteiro. A partir do km 100 começamos a ficar muito fortes e fomos alcançando vários atletas que se desprenderam do grupo A. Fizemos de tudo para nos manter unidos, mas inevitavelmente nos reduzimos a quatro atletas. Por volta do km 120 eu tive que me desprender do grupo devido a um pneu furado. Assim que terminei de arrumar tudo, estava ciente que teria que encarar os últimos 50 km sozinho. Foi a pior parte da prova para ficar sem companhia, pois tinha muito vento contra, e a velocidade no plano não passava de 18 km/h devido a isto. Eu não podia esperar um terceiro pelotão chegar para eu me encaixar, pois poderia perder muito tempo esperando eles. Não parei de fazer força nem por um segundo. Eu tinha trabalhado em grupo até ali, e estava com as energias em dia. Estes últimos 50 km seriam um grande contra relógio, aonde eu faria muita força, sem avistar ninguém ao meu lado.

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Momento em que o austríaco Stefan Hackl (38) faz o trabalho sujo para o brasileiro Breno Bizinoto (6). Ao fundo, Bélgica e Austrália começam a apresentar sinais de cansaço.

O impressionante foi que mesmo sozinho eu continuei alcançando alguns atletas isolados que andaram o tempo inteiro na minha frente, e que agora já não tinham mais forças. Logo, passei um daqueles chineses que era muito forte, e passei também o austríaco da minha categoria, que antes estava no mesmo pelotão que eu. Isto foi motivo para eu permanecer fazendo força sozinho, afinal, nenhum dos atletas permaneciam agrupados mais.

Terminei a etapa muito cansado, mas fui direto cuidar de fazer um desaquecimento, tomar um repositor energético, tirar a roupa, almoçar, tomar banho e lavar a bike. Depois, vi que tinha ficado em 3° lugar na categoria. Por hoje, missão cumprida.

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Apesar da rivalidade de uma corrida individual, os atletas trabalham em equipe e otimizam a suas forças ao longo das várias horas pedalando. A formação de um grupo de atletas, ou um pelotão, baseia-se em revezar as posições de forma que cada atleta contribua quebrando a resistência do ar durante algum tempo.

5ª Etapa – 175 km

Hoje, finalmente acho que a turma largou menos apavorada. Não por opção, mas por que o corpo começa a não aguentar mais. Mesmo assim, optei ainda por ficar mais atrás, na esperança de ir novamente alcançando aos poucos os atletas da frente. O que aconteceu hoje foi que se formaram vários pelotões pequenos, e eu fui sozinho saltando de um para o outro, ganhando mais posições e andando com grupos mais fortes. Tomar a decisão de sair do pelotão que eu estava para entrar em outro grupo mais a frente ia me custar alguns minutos andando sozinho. Eu tinha que tomar a decisão de ir ou não, pois a operação poderia dar errado e eu gastaria energia à toa. Ou então, mesmo que desse certo, pode ser inviável desprender tanta força assim. Me encontrei neste dilema várias vezes hoje, e consegui fazer as contas para encontrar o melhor momento para a mudança de grupo.

Hoje presenciamos paisagens inacreditáveis. Na verdade todos os dias temos atravessado um horizonte infinito de montanhas. Vemos sempre grandes grupos de animais exóticos que não se preocupam com a nossa presença. Os cavalos gostam de correr ao nosso lado por alguns segundos. As vezes, vemos as casas dos nômades que existem no país, e podemos ter uma idéia de como é a vida destas famílias no meio das montanhas. Um grupo de aproximadamente 30 gazelas cruzou a trilha na frente do nosso pelotão. Eram tantas, que demorou quase 30 segundos para que todas terminassem a travessia. Quase que precisamos reduzir a nossa velocidade para não colidir com as últimas do grupo, mas naturalmente todos os ciclistas ficaram tão impressionados com a cena, que por alguns segundos pararam de competir, e se dedicaram somente a absorver aquela experiência única.

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Ser competidor ou praticante de mountain bike é contemplar todos os dias a natureza, experimentar de surpresa momentos como este, que jamais vão acontecer em um tour ou em um safari. É ter contato com os animais e suas reações naturais, diferente das grades colocadas nos zoológicos. É poder conhecer novas pessoas, culturas, histórias, costumes e lugares. Mas muito mais do que isto, é você poder se conhecer melhor. Hoje foi meu aniversário, e eu demorei algumas horas para lembrar. Acho que a atmosfera do lugar respirava tantas novidades (e dificuldades), que me perdi em meio às datas, relógio, celular e costumes do mundo contemporâneo. Eu já estava a cinco dias sem comunicar com a minha família e amigos, muitos estavam tentando me dar os parabéns pelo aniversário, e eu só me dei conta disto na metade da etapa de hoje. É engraçado como nestas horas a competição ultrapassa o limite físico, ultrapassa o limite psicológico, e começou a desafiar o limite emocional. E nessa hora, não adianta ter treinado igual um touro, se você começa a sentir saudade de casa, e do bolo de aniversário que poderia estar rolando por lá. Parece que nessa hora você é testado se gosta ou não daquilo que está fazendo. Parei para refletir o que eu estava fazendo. Tinha terra em todos os meus dentes, e eu sentia a boca seca de tanta poeira. Meus pés estavam molhados há horas, e o capim duro da entrava na minha meia e incomodava como uma agulha dentro da sapatilha. As minhas mãos estavam anestesiadas a horas e formigavam com a posição repetitiva. O australiano na minha frente estava ficando cansado, e me obrigava a colocar a cara no vento, minando ainda mais a minha respiração. O Garmin mostrava que tínhamos pedalado por 140 km, mas ainda faltavam 35 absurdos quilômetros. E lá na frente, eu via um chinês da minha categoria. O que será que passava na cabeça dele? Será que também era aniversário dele? Garanto no mínimo, que ele também estava com a boca seca e mãos anestesiadas.

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Sim, os testes que aparecem nestes momentos definem o que você mais gosta na vida. E eu gosto é de botar a cara no vento e sentir o capim incomodando no fundo da sapatilha. Gosto de ver a quilometragem aumentar cada vez mais, e de ver que tem um cara que veio lá do outro lado do mundo para disputar a posição de hoje comigo.

Eu e o chinês começamos no pé da montanha uma briga muito forte pela terceira posição de hoje, e a estratégia era atacar sem olhar pra trás. Eu fui à frente, e não sabia se ele tinha ficado para trás ou se estava na minha cola. Não é como no Tour de France que vem uma moto te mostrar quantos segundos de diferença você já colocou no cara lá de trás. E eu realmente não queria saber. Acelerei como se fossem os últimos 30 quilômetros. Ainda bem que eram mesmo os últimos 30 km, por que se tivesse um pouco mais, eu não conseguiria sustentar aquele ataque. Eu cheguei 6 minutos na frente dele, com um cansaço que não me permitia pronunciar uma só palavra. Pareceu ser o maior pega que eu já vi, mas a disputa dos próximos dias não seriam diferentes. Ainda bem, que eu não sabia disso. E pude ir descansar tranquilamente para o próximo dia.

6ª Etapa – Contra relógio – 48 km

A etapa de hoje foi um alívio para todos. A largada seria mais tarde, e seria feita nos padrões de uma prova de contra relógio. Funcionou assim, cada atleta iniciaria a prova individualmente, com um tempo de um minuto entre as largadas, começando pelo pior colocado, e terminando com o campeão geral. A distância foi bem menor, e o acumulo de subidas foi relativamente alto, mas nada demais. A utilização de vácuo foi proibida nesta etapa.

Acontece que, quanto menor a distância, maior é a intensidade. Particularmente, eu quis investir nesta etapa para tirar uma diferença, mesmo que ela não fosse muito grande. Tomei esta decisão acreditando que a minha recuperação seria boa entre as etapas, e isto me daria a intensidade necessária para o dia de hoje.

Foi a corrida mais divertida de todas, pois os atletas mais lentos largaram primeiro, e aos poucos foram sendo ultrapassados pelos atletas mais velozes que largaram depois. O tempo de prova foi aproximadamente duas horas, e o clima era muito legal. Isso não quer dizer que foi fácil. Eu mantive a minha estratégia de investir um pouco neste dia, e cheguei muito exausto. Mas como o tempo de prova foi curto, tivemos tempo de sobra durante a tarde para organizar os equipamentos, conversar e distrair um pouco. E pudemos também acessar os resultados gerais, e eu descobri então que estava em segundo lugar na classificação final da minha categoria. E o terceiro lugar, era aquele espanhol da mochila grande, com apenas oito minutos de diferença. Ali, eu fiquei sério de novo, a corrida estava acabando, mas eu tinha muito trabalho pela frente. Oito minutos.

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7ª Etapa – 90 km

Oito minutos. Foi assim que eu dormi e acordei. Aquele espanhol poderia ganhar de mim na etapa de hoje, mas se ele ganhasse por mais de oito minutos, eu perderia a minha posição. E francamente, eu sabia o tanto que ele era forte. Ontem no contra relógio eu tive um tempo muito bom, mas o dele foi ainda melhor. Ele só estava oito minutos atrás de mim por que teve alguns problemas mecânicos. É claro que isso faz parte do mountain bike. Eu também furei três pneus, fiquei perdido e parei pra ajudar o português, mas nada disso me coloca em uma posição injusta, e sim no meu real tempo da competição. E o tempo era bom. Era melhor que o do espanhol. Mas apenas oito minutos.

Se este número estava se tornando repetitivo na minha cabeça, eu imagino como estava para ele, que ao invés de defender a pequena fração de tempo, precisaria atacar. E o espanhol se mostrou um super atleta, forte e inteligente na administração de cada segundo.

Assim que acorrida começou, ele não se preocupou em pegar o pelotão mais forte ou em começar tirando a diferença logo cedo. Ele ficou sempre atrás de mim, apenas me marcando. E eu, também não tinha o mínimo interesse em fazer alguma extravagância, também por que no último dia a velocidade é naturalmente muito maior, por que ninguém precisa salvar energia para o dia seguinte.

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O espanhol Salva Maharrí (27) procurando o melhor momento para o ataque dos oito minutos.

Eu consegui entender que ele estava com uma estratégia diferente, pois já estávamos quase na metade da corrida e ele ainda não tinha iniciado o ataque para tirar a diferença de tempo. Logo, nos aproximamos do único ponto de apoio que haveria naquela etapa, e todos os atletas do pelotão se prepararam para fazer o reabastecimento. Naquele momento, lembrei daquela mochila gigante que o espanhol sempre carregava! É claro que ele não ia perder tempo no ponto de apoio! Percebi tudo, abortei o meu reabastecimento e fiquei preparado, pois sabia que o ataque iria acontecer naquele exato momento! Dito e feito, todos pararam, e o meu rival colocou um ritmo para ir longe. Acontece que eu fiquei esperto, e fui no vácuo dele. Ele demorou alguns segundos para perceber que não estava sozinho, e a partir dali, ficamos só nós dois em um clima muito decisivo.

Eu nunca competi com um atleta tão inteligente. Se eu me achei esperto por saber que ele não iria parar no ponto de apoio, ele foi muito mais, por que também sabia muito dos meus pontos positivos e negativos. Ele me atacou no plano, por que sabia que as subidas eram o meu forte. Existe uma dificuldade de atacar no plano, que é o atleta ficar no seu vácuo e minguar a operação, mas ele apostou no oposto, e foi muito bem sucedido. Eu não consegui ficar no vácuo dele, e a nossa distância começou a aumentar. Os oito minutos se transformaram em sete minutos e alguns segundos. O que não podia acontecer era que eles fossem reduzidos a zero.

Enquanto eu fazia muita força, eu via a nossa distância aumentando. Aqui na Mongólia os campos são muito abertos, então se o cara está a 2 km de distância você ainda consegue ver ele lá na frente. E isso criava margem para muitos problemas psicológicos. Eu ficava sempre imaginando qual seria a diferença que tínhamos agora. Seis minutos. Não sabia ao certo. Ele pegou uma descida, e agora eu via ele bem mais longe, por que sua velocidade estava maior que a minha. Acho que uns três minutos agora. Na próxima subida acho que isso vai voltar para uns quatro. Três e meio, quem sabe.

Acho que eu tive que repensar o que eu estava fazendo. Sim, eu estava pedalando muito forte, mas estava pensando demais. Apesar de importante, matemática não é a minha praia. Eu estava sozinho, e era o último dia. O relógio não ia me ajudar. Ele era na verdade meu inimigo. O que mesmo que eu gosto de fazer? Eu gosto é de botar a cara no vento e sentir o capim incomodando no fundo da sapatilha. Gosto de ver a quilometragem aumentar cada vez mais, e de ver que tem um cara que veio lá do outro lado do mundo para disputar a posição de hoje comigo. E eu fiz o que eu tinha que fazer, e aquela fração de tempo não se repetiu mais nenhuma vez na minha cabeça. Eu pedalei como se não houvesse amanha. E realmente não havia, pela primeira vez nesta competição quase interminável. Foram 40 km nesta tocada. Quarenta intermináveis quilômetros. Os últimos são os piores. Errado. São os melhores. Foram o ponto alto da minha performance em toda a minha carreira, aonde eu exalava concentração e força. Quando eu cruzei a linha de chegada, o espanhol já estava lá. Ele terminou a corrida primeiro que eu, mas eu não sabia quanto tempo. Ele estava junto aos organizadores da cronometragem, contando o tempo que eu gastaria para chegar. Eu, já tinha parado de fazer as contas a algum tempo.

Antes de me jogar no chão e descansar, soltei a bike e parabenizei o meu amigo Salva Marrahí, vulgo espanhol da mochila. Disse-lhe que nunca tinha disputado com alguém tão inteligente. Aí eu caí no chão. E então fiquei sabendo que os oito minutos foram reduzidos a cinquenta segundos. Cinquenta segundos! Era o novo número que não saía da minha cabeça. O espanhol precisava colocar uma diferença de oito minutos, mas só conseguiu colocar sete minutos e dez segundos. Não. Na verdade eu é que precisava defender oito minutos, e consegui manter apenas cinquenta segundos. Em uma ultramaratona cada um tem que cuidar do seu tempo, por que se você ficar olhando para o tempo dos outros, vai bater a cara no muro. E isso, eu aprendi só lá na primeira etapa. O espanhol cuidou de fazer o que estava ao seu alcance, e eu, também. E a proposta é justamente essa.

O Mongolia Bike Challenge mostrou a todos, que não é uma competição entre atletas. E sim uma competição que cada um atinge o máximo de si, e os pódios são uma mera formalidade. E que o esporte, não deve nunca ser rebaixado a uma única rivalidade entre atletas, mas sempre como uma busca pela auto superação de pessoas. E que 50 segundos em meio às 38 horas disputadas, não querem dizer que foi quase a mesma coisa, mas muito pelo contrário, que cada um buscou o máximo de si.

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As montanhas ficam ainda mais intermináveis com o referencial dos primeiros atletas que vão à frente

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As crianças são muito bem tratadas no país, e vivem uma vida simples e sem grades ou inseguranças.

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É comum encontrar estas inferências sagradas, feitas com roupas deixadas nas montanhas.

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Conhecidas como “ger”, estas cabanas brancas são as casas utilizadas pelos nômades que circulam pelo país, e conseguem sem muita dificuldade desmontar a casa e transportar em cima de seus camelos. É encontrada também na periferia da capital Ulan Bator, devido ao baixo custo de construção. A arquitetura dos dias de hoje imita o mesmo sistema estrutural utilizado nas “gers”, como no refeitório à esquerda da foto.

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Interior de uma “ger”, com a sua iluminação natural acontecendo pela principal peça de sustentação do conjunto.

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O português José Teixeira me presenteando com a camisa de sua equipe em agradecimento ao dia que competimos ajudando um ao outro

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O atleta local da Mongólia que se acidentou na quarta etapa, sendo presenteado com uma camisa de Iron Biker Brasil

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Pódio da categoria Sportman (18 – 32 anos).

1° Jaroslav Halas (Polônia), 2° Breno Bizinoto (Brasil), 3° Salva Maharrí (Espanha)

Fotos: Biketo.com

Mais informações: https://www.mongoliabikechallenge.com/

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